domingo, 11 de fevereiro de 2007

Tudo igual no ano-novo

Daqui a pouco é amanhã, e tudo volta a ser como era antes. O trabalho, a faculdade e os velhos textos melancólicos. Logo agora que eu tinha prometido me fingir de alegre o tempo todo e não só na companhia de outras pessoas.
Quando saí de férias, uma das propostas-para-mim-mesmo, aqueles juramentos que não podem nem devem ser quebrados, era usar o tempo que eu teria disponível para repensar a minha vida. Repensar o que eu tenho feito de interessante e o que ainda tenho por fazer. Eu esperava descobrir quem sou para ter idéia do que poderia vir a ser.
Pelo menos para poeta agora descobri que sirvo.
Logo eu, outrora sagaz, vindo de tão longe, preparado por tantas combinações, por tantos gestos extintos. Estou desaparecendo pouco a pouco, dando espaço para novas combinações e outros gestos. Outros ataques, réplicas, reviravoltas da sorte... Enfim, uma quantidade pequena de aventuras.
Estou emocionado, sinto meu corpo como uma máquina de precisão em repouso. Posso dizer que tive verdadeiras aventuras. Não recordo seus detalhes, mas percebo o encadeamento rigoroso das circunstâncias. Atravessei mares, deixei cidades para trás e subi rios, ou então me embrenhei em florestas, sempre me dirigindo a outras cidades. Tive mulheres, me meti em brigas; e nunca podia voltar atrás, como um disco que não pode girar ao contrário.
E tudo isso me leva aonde? A esse minuto, a essa cadeira, a essa bolha de claridade zoante de música.
Ando mentindo muito para mim mesmo. Minha vida nada tem de muito brilhante. Eu imaginava que em determinado momento da minha carreira na Terra poderia assumir uma qualidade rara e preciosa. Tenho vivido como um aposentado lobo dos mares, se mantendo firme graças as suas histórias. Quando toca alguma música nos lugares que frenquento, me transporto ao passado, evoco aventuras que de fato vivi, mas em outras épocas, em outras circunstâncias. Aventuras que não voltam mais.
As aventuras estão nos livros. Menti pra mim mesmo durante os últimos 19 anos. Tudo o que se conta nos livros pode acontecer realmente, mas nunca da mesma maneira.
Pobre de mim. E pobre de vocês, os que lêem essas coisas.

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