terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Salve Nelson, o Rodrigues

Dias desses li um texto criticando sutilmente o escritor Nelson Rodrigues. Aquele, autor de nada menos que o clássico "A Vida Como Ela É". A "promotoria" – em algum jornal do interior do Paraná, talvez a Folha de Londrina – acusava Nelson de ser simplista, machista, pejorativo e inocente. Falava de seus contos como "um pouco tragicômicos, mas cheios de sexo, violência e traição", e ainda o chamava de pseudo-intelectual. De fato não era tão estudado, conforme descobri com menos de dois minutos de google, mas ninguém melhor do que ele para falar do cotidiano do brasileiro da época: o carioca.
Para essas minhas tão comentadas férias, fiz questão de comprar esse livro. "A Vida Como Ela É" é simplesmente fantástico! Contribuiu com 60% do meu processo de perda de identidade. Neson Rodrigues conta histórias que parecem ter sido tiradas das conversas com o velho tio Joel ou com o falecido Biso. São tão reais, palpáveis, que você parece interagir com cada personagem; chega a ter pena do mocinho traído e raiva do vilão coadjuvante. Nada melhor do que a realidade de terceiros para te fazer pensar melhor na sua.
Foi o que me fez cogitar que o tal "crítico literário" não consegue aceitar a realidade em que vive. Com o perdão do trocadilho, não consegue aceitar a vida como ela é. Cheia de sexo, intrigas, gambiarras, traições, paixões, malandragem, brigas, a vida é uma mistura de emoções. Nelson Rodrigues foi inocente o suficiente para transcrever com fidelidade o que acontecia a sua volta. Contava como um amigo pelo telefone o óbvio ululante que podia estar se passando no apartamento do lado, sem fantasiar, como tantos outros escritores realistas de seu tempo.
Amante do futebol, por um tragédia do destino torcedor do Fluminense (o Fla-Flu é o que é por causa dele e do seu irmão, o jornalista Mário Filho, agora Maracanã), dizia que "o mal da literatura brasileira é que nenhum escritor sabe bater um escanteio".
Ele sabia.

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