terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Não há lugar como o nosso lar

Ir para o Brasil — ou para "casa", como queiram — como um simples visitante é uma experiência única e instrutiva. Isso lhe dá a oportunidade de ver as coisas que você conhece muito bem de um ponto de vista um pouquinho diferente. Você se vê capaz de perceber pequenas mudanças em aparência e comportamento de uma maneira que seria impossível anteriormente, e até mesmo o seu nível de aceitação perante algumas coisas (ou pessoas) que antes lhe incomodavam se torna muito maior. A mais importante realização resultante de uma visita como essa, porém, é a de que nada jamais muda.

Claro, é óbvio que você pode se chocar ao ver pela primeira vez aquele primo que entrou na puberdade durante a sua ausência. Agora ele só veste roupas pretas, góticas, e começou a responder a própria mãe na frente da família inteira; ele está passando por aquele tipo de desenvolvimento tanto no corpo quanto na mente que nem sempre é confortável. Mas você sabe, e provavelmente você é o único que consegue ver isso, que sua essência ainda permanece a mesma. Sua voz é a mesmo, ainda que mais baixa no tom e mais alta no volume; seu cabelo parece exatamente o mesmo, exceto que agora ele está mais longo e pintado de preto; até mesmo seu jeito de andar em nada mudou: ele apenas se bate para manter o equilíbrio sobre aquelas botas de salto alto. Só que você consegue perceber em seus olhos aquele mesmo neto carinhoso e criança prodígio de outrora. Tudo não passa de uma simples fase.

Quando chega a hora de botar a conversa em dia com os amigos, algo que deixou de ser o mesmo em tempos de internet, Facebook e WhatsApp, essa reconfortante sensação de mesmice fica ainda mais acentuada. Seu melhor amigo ainda é o seu melhor amigo, com as mesmas idiossincrasias que você sempre odiou; seus segundo melhor amigo ainda está lá para qualquer coisa; e seu terceiro melhor amigo também está lá, ainda esperando por uma chance para subir no ranking. Isso acontece porque os motivos que um dia os uniram não mudaram em nada. As circunstâncias podem sim tê-lo feito, o que dá a impressão de que a amizade mudou de alguma maneira, porém alguns minutos sentados na mesma mesa e tomando da mesma garrafa são o bastante para fazer tudo voltar a ser como era antes.

Descobrir que as coisas nunca mudam é uma realização relaxante. Isso lhe dá a liberdade para sair por aí tentando chacoalhar um pouco as coisas. Garante a você a coragem necessária para mergulhar nas profundezas do desconhecido apenas pelo prazer da aventura. Porque você agora entende que a qualquer momento que você queira — a qualquer momento que você precise — sua antiga vida feliz e confortável estará lá esperando por você. Agora com a inclusão de alguns espinhos e rímel nos olhos, claro, mas ainda o mesmo ambiente estável onde você tem certeza que se sente à vontade e satisfeito.

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