Creditavam a ela o título de mais devotada carola daquela instância. Ia à igreja todos os dias, sem exceção, às vezes em dupla jornada. Fizesse chuva ou sol ela ajudava na missa, na quermesse e no que mais fosse preciso, sempre com um largo e sincero sorriso no rosto. Diziam ser feita para aquilo, e que só não era freira pura e simplesmente por falta de nominação.
Não havia qualquer tipo de suspeita sobre a índole da moça. Houve quem dissesse, no começo, que ali tinha algum tipo de interesse, fosse no padre ou no dinheiro da igreja. O fato é que o pároco responsável já mudou mais de uma vez e a saúde financeira do pai dela não deixava resistir qualquer tipo de suposições. Era uma devota e ponto, daquelas bem à moda antiga.
Certo dia, numa terça-feira como qualquer outra, ao sair de casa para a igreja ela encontrou um homem de camisa branca e gravata parado junto ao seu portão. Mesmo de lado era possível perceber que ele era alto, de rosto bonito e nada ameaçador. Mesmo assim a moça freou por um instante, apreensiva. Aprendera a temer aproximações repentinas, sobretudo de homens, estivessem como estivessem vestidos. Não que tivesse medo – os ensinamentos da bíblia dizem para amar ao próximo como a si mesmo –, mas a vida mostrara-lhe que cautela no convívio social nunca é demais.
Ela aproveitou que lá fora o homem ainda olhava em volta para dar um passo atrás. Escondera-se atrás de um arbusto, já fora do campo de visão de quem estivesse na rua, para pensar no que fazer. Nessa hora ele virou e ela pôde ver seus olhos, azuis como o céu e bondosos como o de um filhote de labrador. O homem pôs algo embaixo dos braços e suavemente bateu palmas.
A moça sentiu-se mais tranquila com a aquela atitude. Fosse pelo que ele botara debaixo do braço – “possivelmente uma pasta, já que ele nada mais é do que um homem de negócios”, pensou – ou pela sinceridade daquele olhar resolveu atendê-lo sem chamar ninguém para acompanhá-la, algo que fazia com frequência. Levantou, livrou-se duma imaginária poeira e caminhou lentamente na direção do portão. Chegando lá percebeu que se enganara. No distintivo que ele carregava no peito dizia “Brother Sílvio”. Ele, ao vê-la, começou:
- Bom dia, irmã. Eu sou o Irmão Sílvio e aquela é a Irmã Jurema. Nós somos Testemunhas de Jeová. Será que podemos ter um minuto da sua atenção?
2 comentários:
quem oferece perigo agora?!, QUEM!!??
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKk
Muito bom!
Caguei de rir...
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