terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Rei do Pendura

Já tinha visto aquele cara aqui no restaurante, só não lembrava de onde. E por algum motivo acho que ele vai arrumar confusão. Ah sim, esse foi o miserável, que arrumou uma confusão fenomenal aqui e todo mundo saiu sem pagar. Em 88 ou 89 eu acho. Dureza é que não tenho como provar que foi esse puto quem armou aquela balbúrdia toda. Bom, vamos deixar isso para trás, vida que segue. Ainda mais que ele parece estar bem tranqüilo com o filho.

- Boa tarde, já escolheram?
- Não chefe, ainda não. O que você está querendo comer filho?
- Batata frita, que batatinha frita pai.
- Perfeito! Por favor, uma alcatra no ponto para nós dois, batata frita, uma cerveja e um guaraná.

Anotei o pedido e fui buscar umas torradas e manteiga, um agrado que a minha mãe serve aos clientes. Achei que foi um acidente mesmo o que ocorreu no dia da briga, ele não parecia que estava aprontando alguma. Pelo modo como tratava o garoto, parecia ser um bom pai. De onde eu estava, podia ouvir ele contando a história de alguma vitória do Flamengo. Fui até a mesa levar as bebidas e as torradas, quando ele dizia...

- ...um time chileno. Não lembro o nome, o jogo decisivo foi no Uruguai. – dizia ele com as mãos na cabeça.
- Cobreloa – eu falei – Cobreloa do Chile.
- Isso, isso mesmo. Eu estava contando pro garotão aqui, como o Mengão foi fantástico naquele jogo, contra aqueles chilenos briguentos.
- Verdade, bons tempos.
- Bons tempos mesmo e a gente ganhava tudo.
- Pois é, naquele tempo a gente dizia que o Nunes era ruim de bola, mas ele fazia uma penca de gols e tinha uma raça de dar inveja. O nosso time agora...
- Hahaha... mas vai melhorar. Acredite.
- Eu acredito, estou na torcida.

Servi as torradas e as bebidas e voltei para o balcão. Comentei com o Marcel, que trabalhava comigo, que nem parecia aquele maluco da briga. Nem ele acreditou que o sujeito que arremessava cadeiras, poderia voltar para o nosso restaurante e ainda acompanhado do filho. Em pouco tempo a alcatra estava pronta, quando servi o garoto ficou impressionado com o tamanho do prato. Mesmo assim comeram toda a carne, e ainda pediram sorvete de sobremesa. O garoto repetiu o sorvete.

Quando eu voltava com a segunda taça de sorvete o sujeito me perguntou se celular funcionava normalmente dentro do restaurante.

- Sim, nunca tivemos problemas com isso. – respondi.
- Não sei, é que meu telefone está sem sinal aqui dentro.
- Não quer ir ali fora tentar, vai que funciona.
- Será?
- Sim, ou quer usar o telefone do restaurante.
- Não precisa, vou ali fora mesmo. Volto num instante, com licença.

O camarada disse ao garoto que já voltava. Saiu segurando o celular na mão e com um semblante preocupado. O garoto comia o sorvete pacientemente e eu fui atender outra mesa. Dez minutos se passaram e o sujeito não voltava. Mas como o garoto estava ali, fiquei tranqüilo. Acreditei se tratar de uma ligação importante. O tempo foi passando e o sujeito não voltava. O menino com ar de assustado, veio perguntar pelo, suposto, pai. Respondi que não sabia e perguntei se ele não tinha dito onde ia.

Foi então que me ocorreu que o sujeito que julguei ser bom pai, estava dando um calote. Confirmei isso quando perguntei ao garoto se o sujeito era o pai dele. O garoto me contou que não conhecia o viado caloteiro e que ele tinha dado as roupas e ofereceu para pagar um almoço. O garoto até se ofereceu para lavar a louça, mas me senti enganado deixei que ele fosse embora. E claro, o sujeito nunca mais voltou aqui.

Fim

Um comentário:

Anônimo disse...

prefiro não entrar no mérito da crônica, problemas sociais no Brasil, feito a "canalhice" são exemplos muito bem ensinados pelos que comandam o País
mas não posso deixar de assinalar que o "viado caloteiro" fosse uma 'viúva do time de 1981'... coitado, sinto pena, ainda mais considerando que deixou de voltar à Copa, agora, perdendo vaga na goleada para o desprezível "ventania"
negócios à parte me desculpe a brincadeira; passo para agradecer o comentário e a visita, e lembrar saudosamente do seu programa que, com gentileza, você me convidou para falar de uma de minhas paixões: o indescritível futebol
pois é, não é questão de ser "guloso", como você sugeriu lá; na verdade trata-se de preferência, evolução da espécie e seleção natural, nem Darwin explica...
seja sempre bem vindo, mas a atualização daquele é eventual, as postagens regulares você pode conferir aí ó: http://www.91rock.com.br/blog/futebolecoisaseria/
apareça quando quiser
lembranças e um 2009 grande para todos nós!