Não se fala em outro assunto, é dia de decisão do campeonato. A cidade inteira está apreensiva. A favor ou contra estão todos os torcedores ligados na decisão. As crianças jogam bola na calçada, ao mesmo tempo em que jogam bola narram o jogo como se eles fossem o narrador e os jogadores que em instantes decidirão o campeonato. Fogos de artifício estouram no ar, dando um clima de festa na cidade.
As senhoritas já escolheram o goleiro como o mais belo jogador. Os homens apenas levam muita fé na atuação do goleiro e no artilheiro do time, o mexicano Gonzales. O camisa nove tem raízes na cidade, pois seu bisavô foi um dos fundadores e hoje tem até uma praça com o seu nome. Nos botequins todos aguardam ansiosos pelo começo do jogo. Várias apostas e até um bolão valendo uma Brasília ano 85, para quem acertasse o placar e quem faria os gols.
Faltando pouco minutos para o começo do jogo, apenas um tevê sintoniza um canal qualquer que não o do jogo. É a casa da Dona Amélia, que não vai assistir a decisão. Mesmo sendo um momento que pode entrar para a história do futebol e da cidade, ela não quer saber do jogo. Não desse jogo em especial. Dona Amélia ficará assistindo qualquer coisa menos futebol.
Ela resolve ler uma revista e ouvir música, nisso o telefone toca. É a vizinha, que a convida para assistir o jogo, com mais outras vizinhas. Mas Dona Amélia agradece, mas recusa o convite. A amiga insiste, porém ela é irredutível e dispensa o encontro. Algum tempo depois, a amiga insiste em chamá-la novamente. Então ela explica que não gosta de assistir futebol, porque ela é a mãe do juiz e não suportaria ser xingada sem ter feito nada.
Fim
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