sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Espera sentado

Já estava sentado ali há pelo menos 40 minutos. As pernas formigavam, o pescoço coçava e as meias esquentavam-lhe os pés a ponto de fazer qualquer deserto parecer um bom e velho oásis. Costumava dizer que aquilo era coisa que só acontecia com os outros. Mas desta vez não; era ele, ali, sentado, com as pernas ora arqueadas, ora cruzadas. Já decorara quantos azulejos tinha em cada parede, de ponta a ponta, inclusive quantos estavam quebrados e onde. Até a bateria do seu mp3 já havia acabado.

Olhava em volta e não via ninguém. Ou melhor, havia um; mas era ele próprio, refletido no espelho. Um espelho grande, que ocupava quase uma parede inteira e fazia o recinto parecer maior do que realmente era. Uma imensidão azul que lhe pareceu infinita, inatingível. Lembrava a morte, pensou. Sim, o infinito estava além daquelas paredes. Perto, porém fora do alcance das suas enrugadas mãos. Precisava de alguém; alguém que lhe chamasse, gritasse seu nome. Que lhe ajudasse enfim a encontrar uma saída.

O tempo na solidão parece seguir à conta-gotas. Ele sentia no pulso o ritmo do relógio marcando cada segundo, cada minuto. A cada batida dos ponteiros, o coração parecia responder, afoito e agoniado. Então o equipamento completou seu ciclo: uma hora. Uma hora ali, sentado, sem poder sair do lugar ou conversar com outro ser. Nem uma revista sequer disponível para lhe ajudar naquela difícil espera. Nenhuma.

Finalmente, quando já estava prestes a desistir e assassinar a si próprio, ele ouviu um barulho. Algo como uma batida seca, um ruído leve, praticamente imperceptível. Quase não acreditou. Ajeitou-se onde estava, botando reta a coluna que já parecia uma banana. Queria mais – mais barulho, mais movimentação. Precisava sair daquele marasmo que havia tomado conta de sua vida. A imensidão azul diminuiu, já não lhe parecia mais tão infinita assim; a liberdade lhe pareceu cada vez mais próxima.

Fechou os olhos em concentração total. Precisava captar no ar qualquer ruído, qualquer movimentação. Tudo era questão de concentração, pensou. Pensamento positivo. Entrar em sintonia com os astros para que eles mexam os pauzinhos em seu favor. Suava. Suava frio, física e psicologicamente. Fez um esforço tremendo até que mais um pequeno barulho foi ouvido. Ou deuses estavam do seu lado. E de repente mais um. E outro. E mais outro. Foi a maior sensação de liberdade que ele já sentira na vida.

Finalmente o purgante fez efeito.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não me encomodei em ser enrolado, mas essa aqui =\
heh