segunda-feira, 26 de abril de 2010

Twister on the bus

Pegar ônibus em horário de rush é uma experiência de vida. Há anos que eu não fazia isso. Não por falta de necessidade, já que carro deixou de ser realidade minha há algum tempo, mas porque prefiro sair de casa mais cedo ou chegar mais tarde a me espremer num veículo automotor.

As pessoas têm um comportamento completamente diferente no ônibus das 18h. Se você pega o Inter 2 às quatro da tarde todo mundo espera o desembarque, os velhinhos têm lugar garantido e dificilmente algum folgado vai ficar roçando a perna em você a cada curva. Às seis, tudo muda. Parece que todas as convenções vão abaixo e toda a educação aprendida em casa e na escola perde a serventia.

Não há desembarque no busão da 18h. Um expectador veria uma movimentação intensa no interior do veículo, porém em nenhum momento qualquer espaço vazio. Para cada pessoa que desce, outra já está pronta para ocupar o lugar deixado para trás. A substituição dos passageiros se dá em tempo-real.

Outra coisa é que não há assento preferencial para deficientes, idosos e gestantes no ônibus do rush. Primeiro porque nenhum deles conseguiria chegar ileso até um lugar para sentar; e segundo porque não há espaço físico suficiente para uma pessoa se levantar enquanto outra senta. Alguém teria que dividir o banco com o motorista enquanto a transferência de assentos lá atrás acontecesse.

Vejo o ônibus como um tubo de ensaio, daqueles dos laboratórios de pesquisa. Durante o dia, fora dos horários de pico, os tubos – os ônibus – são usados para pesquisas corriqueiras, simples olhadelas na água do Rio Belém a procura de bactérias. Na hora do rush, porém, são feitos experimentos para encontrar a cura do câncer. Misturas inacreditáveis, que elevam a pressão dentro dos vidrinhos a valores absurdos.

É nessa hora que uma das leis fundamentais da física – a que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo – cai por água. No ônibus das seis, dois ou mais corpos ocupam o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo tranquilamente. É como aquele joguinho antigo, o Twister, só que a o invés de bolinhas coloridas você tem que botar sua mão esquerda na segunda barra de cima, o pé direito entre os dois bancos à frente, o pé esquerdo...

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