terça-feira, 29 de julho de 2008

Quanto mais idiota melhor

A televisão me deixou burro – muito burro – demais. Taí um refrão que pela primeira posso usar como uma verdade absoluta. A televisão está me deixando cada vez mais burro, e se continuar nessa toada não vai tardar para que ela me anule completamente.

Não sou de assistir televisão – não mesmo. Ou melhor: nunca fui de assistir televisão como agora. Começou com outro vício, os filmes, e foi se espalhando pela programação inteira. Tudo culpa destas férias extremamente ociosas. No intervalo entre uma película e outra eu zapeava os canais furiosamente em busca de um programa razoável de esportes (outro vício). No meio do caminho, via um pedaço de um enlatado qualquer ou um "documentário" sobre a vida das estrelas e ficava. E assim, paulatinamente, ia esfacelando toda carga pseudo-intelectual que tinha sido capaz de reter em todos esses anos de estudos e reflexões.

É para isso que serve a TV, principalmente a TV a cabo. Te oferece um monte de porcarias e apenas um ou outro programa bom (normalmente um filme). Só que os programas bestas são muito mais fáceis de assistir; até porque não exigem qualquer reflexão e quando você se dá conta já os assistiu até o final – e ainda deu umas boas e ignorantes risadas. Como diz o Pensador (Gabriel, não Platão), "a programação só existe para manter você na frente/na frente da TV, que é para te entreter/que é para você não ver que o programado é você". Ou você aceita ser um saco de pancadas ou vai para o saco. You will go to the cock, bitch!

Juro que me achava imune a esse vício lazarento. Logo eu, com tanta coisa boa guardada na mente – algumas coisas ruins e sujas também, admito, mas todas extremamente úteis para se manter uma vida social minimamente aceitável. Ontem vi um programa no canal E! Entertainment e percebi que havia chegado ao fundo do poço. Era um narrador do tipo gordinho-de-camisa-nova contando e comentando a vida dos atores de Hollywood – e quando eu digo a vida é a vida mesmo: Angelina Jolie foi ao mercado e comprou dois potes de Nutella, um saco de pão e um conjunto de pilhas alcalinas; Robert de Niro esteve na loja da Nike em busca de um sapato novo para jogar golfe, mas não achou; Renée Zellweger almoçou com a irmã e depois acompanhou-a numa ida ao parque de diversões; e outras excentricidades do gênero.

Alguém compreende o que eu quero dizer? Isso é um vício que se tornou incontrolável. Já nem filmes eu assisto mais porque eles têm legendas que não consigo acompanhar. Agora entendo porque os filmes que passam na Globo às 4h30 são tão dublados quanto aqueles que passam as 16h30. O telespectador não quer perder tempo lendo frases amarelas que passam como flechas no rodapé de uma tela de TV. Quanto mais idiota, melhor. Por isso que aqueles programas com Leão Lobo, Sônia Abrão e congêneres fazem tanto sucesso. São apenas mais um besteirol americano.

Eu tive sorte de identificar e aceitar o meu vício ainda no começo. O meu caso ainda tem cura, sem apelar para grandes intervenções. Usando uma analogia condizente, eu estava só na maconha e eventualmente um haxixe; logo na primeiro tragada em um cachimbo de crack (E! Entertainment) já tomei consciência da minha situação. Sou um favorecido. Tenho pena é daqueles que já partiram para drogas mais pesadas, como as sintéticas anteriormente citadas Leão Lobo e Sônia Abrão, além da maldita Novela (barata, de fácil acesso e extremamente viciante, como a nicotina). Esses carecem de uma internação urgentemente.

Uma pena não haver alguma clínica gigante o suficiente para abrigar mais da metade da população brasileira (se não a grandiosíssima maioria, vai saber).

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