quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Amigo é coisa pra se guardar

Dois amigos conversam durante uma animada disputa de winningeleven, quando um deles diz:

- Lembra da Tv Colosso?
- Legal!
- Mundo de Beckman?
- Nossa legal também.
- Snoopy?
- Sempre assistia, gosto muito do Charlie Brown.
- Cavalo de fogo?
- Muito bom. Só era estranho como um cavalo fazia tanta coisa.
- Chaves?
- Um fenômeno. Tão besta, legal e simples ao mesmo tempo.
- Novelas?
- Muito chato. Evite o primeiro capítulo, que você vai ser mais feliz.
- Filme de caras fodões?
- Que tipo de fodões?
- Aqueles dos filmes de ação.
- Ah, muito chato, mas tem uns clássicos que são legais.
- Quais?
- Rock, Rambo, Duro de Matar, Ameriacan Ninja...
- American Ninja???
- É ué.
- Brincadeira você hein!
- O que foi?
- Ah não meu, depois dessa não sou mais seu amigo.
-Só por causa do American Ninja?
- Po bicho, e você ainda pergunta.
- Mas é maneiro.
- Fala sério.
- Até tenho uma roupa de ninja.
- Essa foi demais, estou indo nessa.
- Ah falou. Pelo menos não choro assistindo a pequena sereia.
- O quê? Quem te contou isso?
... (silêncio)
- Filho duma rapariga!

Depois disso os amigos se quebraram na pancada!
Mas dois dias depois já estavam jogando video game juntos.


Fim

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Hoje cedo

Que coletivo em Curitiba agora tem música ambiente muita gente já sabe. Mas hoje de manhã foi engraçado. Eu lá sozinho, pensando na morte da bezerra bem tranquilo. Até que sem mais nem menos ouço a música do coletivo. Por algum motivo as pessoas não estavam conversando, só se ouvia o barulho do motor do coletivo e a música.
Mas de repente, não mais que de repente alguém gritou;
- O motorista. Toca Raul!
O riso foi geral.

Fim

O Comilão

Olá! Meu nome é Ricardo Aristeu Bacamarte. Tenho 32 anos e estou desempregado. O motivo de eu estar aqui é que cheguei ao fundo do poço, não consigo me olhar no espelho. Tenho vergonha de olhar para os meus parentes e me afastei dos amigos. Minha vida está me sufocando, antes que eu fizesse uma bobagem resolvi vir para cá.

Lembro que comecei logo que entrei na faculdade, como sempre comecei por influência dos amigos. Mas perdi a linha, hoje nem me reconheço mais. No começo a galera até achava engraçado, mas um pouco antes de eu vir para cá. Muita gente se afastou de mim e dos meus amigos, que com o tempo esses amigos também foram sumindo. Fui ficando cada vez mais isolado, ninguém mais queria ficar por perto de mim. Era horrível.

Todo intervalo de aula era uma corrida maluca, todos fugiam de mim. Era uma correria sem fim. Todos a quem eu chamava, respondiam que estavam apressados e tinham algo “para ontem” para entregar. E o que me deixava triste mesmo era chegar na cantina e ver que alguns estavam lá. Não entendia porque eles não me convidavam para a ir até lá com eles. Mesmo assim eu insistia e ia até eles.

Ainda lembro bem da primeira vez que tive uma noção de que algo havia de errado comigo. Cheguei na cantina e lá estavam quatro amigos, fazendo uma boquinha e jogando conversa fora antes da aula. Pude ouvir quando me aproximava que um deles disse “ ih carai, o Ricardinho está chegando”. Na hora achei que fosse brincadeira, cumprimentei todos e pedi um pouquinho do lanche deles. Ai vi que era o começo de tudo.

Há dois meses que eu não consigo passar perto de um amigo que tenha algo de comer que eu não devore. Quando entrei na faculdade pesava 73 quilos e hoje tenho 126, adoro comer todo tipo de fritura da cantina da faculdade. Salgados assados, baguete, batata suíça, pizza fechada tudo que tem lá é bom. Sou um viciado. Isso mesmo sou um viciado. E é por isso que estou aqui na sua casa, às três da manhã. Pedindo para que por favor senhor dono da cantina, eu preciso comer alguns daqueles salgados recheados com carne e cheddar com coca ligth.

Fim

Diário 2

Difícil essa arte de manter um diário. Eu sei que é apenas meu segundo dia, mas não consigo me acostumar com a idéia. Ainda me senti ridículo escrevendo pra mim mesmo o que eu fiz ontem e suas conseqüências pro resto da vida. São divagações meio fingidas, eu acho. Além do que estou achando dificílimo ser honesto. Parece que tenho medo de que alguém leia minhas memórias.
Tem uma dica que dou para se escrever um diário: jamais leia o que escreveu. Nem na hora, nem meses depois. Você se sentirá ridículo. Escreva e, no máximo, corrija um errinho de digitação aqui ou acolá. Melhor ainda se for na munheca: passe o lápis por cima e bola pra frente.
Meu pensamento é infinitamente mercantilista. Ontem, antes de dormir, já imaginava o que escreveria no diário pela manhã. Formava frases de efeito, histórias reais porém mirabolantes. Tudo digno de um romance. Claro que não consegui escrever nada disso – você nunca consegue reproduzir no papel aquilo que pensa na cama, antes de dormir – mas pelo menos serviu pra me convencer que é melhor escrever sobre o dia antes de dormir do que ao acordar. Pelo menos ainda se lembra dos diálogos.
E eu tenho um sério problema de evitar citar nomes. Nem parece que estou escrevendo algo essencialmente íntimo. Como já disse, meu pensamento é mercantilista, mesmo contra minha vontade. Diria que inconscientemente meu cérebro já projeta uma venda de livros futura, com a conseqüente inocência pela ausência de nomes. Parece que minto para mim mesmo. Sei que lá não escrevi todos os sentimentos sentidos durante o dia. Achei que só tivesse problema de compartilhar emoções com os outros, não comigo mesmo.
Ou seria um diário algo – futuramente – público?

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Diário

Hoje criei um diário. É uma situação engraçada, parece que você conversa com um espelho. É como contar para alguém aquilo que ele já sabe. Me senti ridículo! Mas, pensei: tantos grandes caras mantiveram um diário a vida toda, por que não eu? Serei um grande cara, e isso é um fato. Não se em que área, mas serei. Talvez das artes, talvez da política. O que importa é que quanto antes eu começar a anotar minhas memórias, mais terei para contar lá no fim. E, não!, ninguém o lerá. Pelo menos por enquanto.
O lado bom é que sempre terá assunto. Todo dia eu faço alguma coisa, nem que seja nada. E comentar o nada dá muito pano pra manga. Uma das coisas que eu espero, com o diário, é divagar e divagar sobre os assuntos mais diversos. Preciso aprender a enrolar as pessoas como faz um bom advogado. Eu aprendi a técnica com a minha amiga Carol: você fala sobre alguma coisa e a repete até que cessem as palavras. É só puxar um assunto e ir escrevendo, escrevendo, escrevendo até que não existam mais palavras com o mesmo sentido para substituir. Aí você muda o sentido totalmente. A idéia é confundir a cabeça das pessoas.
Minha primeira vez num diário foi engraçada. Estou meio tímido ainda. Na verdade to cheio de vergonha de mim mesmo. To aqui contando isso que é justamente para não ficar me olhando pelo reflexo do monitor. Fico pensando "que cara ridículo". Duvido que assim o negócio vá para frente. O que eu vou ter para escrever amanhã? "Ontem contei no DoisCopos dobre minha experiência com um diário"? Realmente é algo ridículo. Espero não me arrepender daqui a 20 anos e jogar tudo na lixeira.
É isso. Eu acho.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Resposta do amigo urso

Comentário do leitor "Anônimo" no post "Falcão leva namorada à show", de 17/08/07:

"Muito bom isso, me divertí bastante também... Um cara que curti um portal de fofocas chamando outro de baitola por tirar fotos de uma pessoa famosa em local público(paparazzo)... Poxa vida, quem curti portal de fofocas meu amigo, é inevitável se deparar com essas coisas...
'muitas mentes adolescentes transtornadas pela maconha são altamente influenciadas por Marcelo Falcão, quem, suponho eu, é o vocalista fanho da banda O Rappa'
Que eu saiba Falcão nunca fez nenhum tipo de apologia as drogas, seu comentário foi muito infeliz e invejoso
Que bom seria se essas mentes jovens fossem influenciadas sómente pela maconha...Seria o fim da Babilônia e aí sim a Paz reinaria"

Me sinto difamado por ter sido chamado de infeliz e invejoso. Pior de tudo é ser chamado de infeliz e invejoso por alguém anônimo. Um anônimo, inclusive, que escreve "divertí" – com acento –, "curti" – querendo dizer "curte", eu acho – e "sómente" – assim mesmo, com esse acento, digamos, diferencial.
Sem conta, claro, com o excelente uso das vírgulas e da concordância nominal.
Venho por meio desta esclarecer algumas partes:
- Curto, sim, portais de fofoca. É muito divertido pensar que existem pessoas que ligam para a vida de famosos, que precisam saber quantos filhotes teve a cadela da Vera Fischer (o animal. De estimação). Mais engraçado ainda é ler os títulos absolutamente sensacionalistas das – vá lá – reportagens;
- Falcão – decididamente o cantor do Rappa – não fez mesmo apologia as drogas. Não que eu saiba. E continuo achando ele fanho. E no show do Rappa rola muita maconha, sim. E agora, convenhamos, o cara com aqueles deads não enganan ninguém.

Quer saber? Um anônimo não merece minha atenção. Não propaguem esse post.

About me

Meu nome é Cristiano e sou jogador de volei. Tenho vinte e dois anos, moro com meu irmão Cláudio que toca em uma banda de metal. Eu também já fui baixista da banda, mas não deu certo conciliar a agenda da banda e os treinos. Na verdade dava, mas o problema era os treinos da manhã. Sempre chegava atrasado e sem falar na disposição, que era das piores. Uma coisa atrapalhava a outra, até que não consegui fazer nenhuma coisa nem outra direito.
Minha decisão foi continuar no volei, mas ainda carrego uma lembrança dos meus tempos de metal, o meu cabelo. Gosto muito do meu estilo capilar, pois além de ser único no mundo do volei e porque não dizer no esporte, já que o colombiano Valderrama já parou. Meu cabelo é tipo pufante bem alto, tipo uma juba de leão mesmo . Já fui cortado da seleção estadual duas vezes por causa do meu penteado. Mas não me arrependo, não entendo o que uma coisa tem a ver com outra. Ao menos ganhei o apelido de Kid-Cabeleira.
No meu time, sou um dos líderes o treinador confia na minha capacidade de liderança, acho que isso consegui quando subia no palco e com meus solos levava a galera à loucura. Trouxe isso para as quadras, sou eu quem faz o papel do técnico-jogador, mesmo que o técnico fique gritando na beira da quadra. Gosto mais é de corrigir pequenos erros de posicionamento dos companheiros, pois às vezes a rapaziada fica puta da cara com os berros do técnico.
Fora das quadras sou um cara tranqüilo, vou a igreja todo domingo. Visito meu pai uma vez por semana, vou com a Vanessa (a minha garotinha ruiva) para o parque depois do treino. Só não gosto de balada. Aquilo é muito caótico, geralmente o lugar é apertado e sempre tem algum mané pronto para arrumar confusão. Sem falar também, daquela galera que implica com o meu cabelo. Sou muito mais chegado num show de metal ou uma micareta, adoro Ivete Sangalo e o Chiclete com Banana.
Meu sonho é jogar na seleção brasileira, mas acho que enquanto o Bernardinho estiver por lá não vai dar. Li numa revista que ele não aprecia o meu estilo capilar. É uma pena pois acho ele um excelente técnico, mas um dia quem sabe eu não tenha a oportunidade de brilhar numa olimpíada, mundial ou jogos panamericanos.

Fim

Nota do autor: Dois dias depois deste depoimento Cristiano Kid-Cabeleira sofreu um acidente automobilístico e não está mais entre nós.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Sem nexo 2

Para os africanos, o tempo é uma composição dos eventos que já aconteceram ou que estão para acontecer imediatamente. É a reunião daquilo que já experimentamos como realizado, sendo que o passado, imediato, está intimamente ligado ao presente, do qual é parte. O futuro nada mais é que a continuação daquilo que já começou a acontecer no presente, não fazendo nenhum sentido a idéia do futuro como acontecimento remoto desligado de nossa realidade imediata. O futuro que se expressa na repetição cíclica dos fatos da natureza; o envelhecer de cada um é repetição do que já se conheceu, viveu e experimentou. Não há sucessão de fatos encadeados no passado distante, nem projeção do futuro; a idéia de história como a conhecemos no Ocidente não existe; a idéia de fazer planos para o futuro, de planejar os acontecimentos vindouros, é completamente estapafúrdia. Se o futuro é aquilo que não foi experimentado, ele não faz sentido nem pode ser controlado, pois o tempo é o tempo vivido, o tempo acumulado, o tempo acontecido.

Sem nexo

Tem aquela velha história, né: o casal apaixonado que sequer teve um tempo para se tornar amantes. Uma irônia do destino, talvez; um reajuste dos deuses, provavelmente.
O fato é que eles continuaram a se falar, de uma forma ou de outra, e a se amar, por que não?! A relação é, digamos, mais estável do que poderia ser caso se concretizasse o relacionamento.
Eles sorriem um para o outro; eles têm carinho um pelo outro; não há brigas nem discussões; não há ciúme - talvez um pouco, mas nada que cause intrigas - ou sentimento de posse. Eles se amam da forma mais bonita que pode existir.
O que não se sabe é se os deuses preferem eles juntos ou separados. A torcida implora que sim, mas isso só o tempo dirá.

Há quem diga que os trovadores fizeram uma canção para esse causo. Há quem diga que Aleijadinho fez uma de suas esculturas especialmente em louvor a esse amor. Há quem diga que isso nunca existiu.
A verdade é que nada existe de concreto. É tudo uma antiga lenda que flutua pelo ar e passa de pai para filho.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Cangaceiro Manoel

Chamava de baitola todo e qualquer pretendente da filha Lurdinha. Não que quisesse afastá-los da menina; pelo contrário: adorava crianças e não via a hora de ter seu primeiro neto. O fato é que só casaria a filha com primeiro cabra macho arretado que ousasse desafiá-lo. Os anos iam passando e ninguém se atrevia a discordar daquele velho cangaceiro.
O engraçado é que de cangaceiro Seu Manoel não tinha nada. Isso foi uma "profissão" que ele escolheu ter depois de aposentado. Se vestia mais à moda cowntry do que à la matador nordestino: botinas com esporas, calças de couro com franjas nas laterais, camisa xadrez enfiada por dentro da calça, colete de couro com infinitos bolsos, chapéu de boiadeiro e, claro, cinto com uma fivela imensa. Na cintura carregava um coldre vazio "que é pra mor de não fazer besteira". Mas ai de quem duvidasse que ele era mesmo um cangaceiro.
Certo dia, quando Seu Manoel já andava com o destino da filha, apareceu um novo pretendente para Lurdinha. Ela, que há muito já passava dos 30, andava pela cidade toda empolgada dizendo "agora vai, agora vai". O namoradinho, Tonhão, era grande e forte como um touro, e tão ou mais agressivo que um cruzamento de Victor Belford com Alexandre Frota. No primeiro almoço na casa da moça – o famoso almoço de reconhecimento promovido por Seu Manoel a cada novo caso da filhinha – Tonhão foi o mais ríspido que pode:
- E ai, velho? É tu que é o pai da garota?
- Olha lá como fala comigo, rapaz – respondeu o cangaceiro Manoel, com a voz de dublagem de filme de bague-bague que usava para intimidar os adversários.
- Falo como quiser, seu velho frangudo. Se eu quiser, te deixo num canto com os braços amarrados nas pernas.
A essa altura, Seu Manoel já estava de pé com a mão no coldre, mesmo que vazio – uma velha tática do seu herói Virgulino Lampião para assustar os inimigos. Puxou a aba do chapéu um pouco mais para baixo e desafiou:
- Tu é baitola, rapá. Com essa pampa toda, esses músculos todos, aposto que tu fica se ensaboando com as outras bichas da academia. Tu não me engana não, bichinha.
Agora sim Tonhão parecia um touro. Bufava e gemia de raiva. Sua têmpora parecia que ia explodir a qualquer momento. O rosto quente e vermelho suava sem parar. Já estava com uma faca na mão quando, aos prantos, falou:
- Seu velho preconceituoso! Agora entendo porque sua filha queria tanto sair dessa casa. Racista! Você é todo preconceituoso e nem sabe que sua filha é a rainha gay lá da "comunidadi". Sou bicha sim, só vim aqui porque ela insistiu e...
Como todo bom cangaceiro, Seu Manoel era prevenido. Sob a mesa guardava um três-oitão carregado com munição de fabricação própria. Com um rápido movimento, acertou uma bala no meio da testa da bicha esganiçada. Matou também Lurdinha, de desgosto.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

A Culpa é do Catullo

Nove e quinze da noite, o coletivo parado no tubo da Praça Rui Barbosa. Poucos bancos vagos, mas não se ouve nenhuma conversa a não ser pela garota ruiva de blusa preta e cabelo curto, que entrou conversando com alguém pelo celular. Normal pois até ali nada de diferente estava acontecendo numa noite de segunda feira fria em Curitiba.
Muito se fala da característica dos curitibanos de não serem pessoas muito falantes. Mas isso já deu o que tinha que dar, pois peças de teatro, piadas, personagens de novela e outros já gastaram bastante o tema. Mas mesmo assim fica uma pulguinha atrás da orelha, porque raios eles não se falam. Nem entre eles, talvez aquelas pessoas peguem o mesmo coletivo no mesmo horário e mesmo assim não se vê interação.
Mas nesta noite de segunda feira foi diferente. Quando o motorista entrou e sabe-se lá porque, o motor parou. Neste momento foi o começo das mudança na atitude dos passageiros que até ali não se falavam, um sujeito com um gorro marrom virou para a senhora que estava do seu lado e disse -“puxa vida,bem na nossa vez”- ela concordou com o rapaz e foram conversando sobre um tal de Ferran Adrià. Pois ele ( o cara de gorro marrom) tinha como passatempo cozinhar pratos exóticos e ela era uma expert na cozinha.
Nos coletivos aqui, como no metrô em outros lugares, avisa qual será a próxima parada. E isso foi o que deu motivos para vários estranhos se falarem. Quando aquela voz do além em vez de dizer “próxima parada estação praça Osório” disse que a próxima parada seria na estação Catullo da Paixão Cearense. Ai o burburinho foi geral.

Fim

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

A comemoração de Maxi

Eu, como todos (piadinha infame), sei que esse blog é absolutamente autoral. Faço questão que isso seja uma regra, pois só assim posso criar essa exceção. O texto abaixo é do jornalista Juan Saavedra, do blog Flamengonet, e expressa exatamente aquilo que sinto.
(Quando o fundo do poço parece inevitável, é importante agarrarmos em qualquer corda que apareça, mesmo que seja pegadinha do Mallandro)
Aí vai:

Empatia é tudo em qualquer relacionamento. Você bate o olho e faz um julgamento imediato - gosta ou não gosta. A identidade se constrói desse exame, não muito racional, puramente por intuição - o que filosoficamente significa um conhecimento claro, direto, imediato e espontâneo da verdade.
Assim surgem histórias de amor, grandes amizades, parcerias profissionais de sucesso ou mesmo o critério para a escolha de algo chato como um dentista. É desse mesmo modo que nascem os ídolos - não são apenas por causa dos gols, das jogadas espetaculares, da raça ou capacidade de se expressar. Empatia - somente isso.
Na última quinta, quem esteve no Maraca, quem assistiu pela TV, quem tão-somente viu os melhores momentos, testemunhou não só uma vitória heróica sobre o Fluminense ou a conquista de três pontos fundamentais para atenuar uma situação crítica na tabela. Testemunhou aquilo que pode ser o nascimento de um novo ídolo.
Ao vivo, vi Maximiliano Biancuchi em ação por 10 minutos, não mais do que isso, na desastrosa derrota para o Atlético Paranaense. E mesmo atarracado, ele mostrou personalidade. Não se escondeu do jogo e partia para cima, num campo em que o Flamengo quase sempre joga como um menino intimidado.
No Fla-Flu, Maxi fez muito mais do que marcar um belo gol que valeu nossa necessária vitória. Comemorou junto à torcida, exibindo o Manto com orgulho, sem beijinhos para a câmera, sem bajulações ao técnico, sem exibir camiseta. Como deve ser.
Se o baixinho entrará para a nossa galeria de heróis estrangeiros, o tempo há de dizer. A imagem da comemoração do seu primeiro gol com o Manto, no entanto, é promissora e clara. O baixinho soube interpretar o que é jogar no Flamengo. E isso não é pouco.

Pouca M... é Bobagem

Adriano já não agüentava mais ouvir a voz do chefe. Mas não tinha jeito, toda manhã um pouco antes das nove horas o chefe chegava e antes mesmo de um ‘bom dia’ dizia: - Adriano estaciona meu carro por favor. Toma cuidado hein! Isso fazia Adriano se retorcer por dentro. Por várias vezes pensou em enfiar o carro num poste, porém no momento seguinte percebeu que teria que pagar pelo conserto.
Fora ter que estacionar o carro, ainda tinha que fazer outros favores para o chefe. Entregar filmes na locadora, pagar a conta de luz na lotérica, ir ao banco, levar e buscar roupa na lavanderia entre outros. Porém o que deixava Adriano mais puto da cara, era que o chefe não percebia que estava pedindo demais. A partir daí, a vingança seria uma questão de tempo. Só faltava o plano perfeito.
Numa manhã ensolarada de terça feira, o chefe chegou no trabalho e cumprimentou a Rita, a secretária entrou na sala do Adriano e pela primeira vez no mês não pediu pra ele estacionar. Acontece que o chefe, além de folgado era cara-de-pau, estava com a namoradinha extraconjugal no carro. Só passou no trabalho para ligar para a esposa, assim quando ela atendesse o celular saberia que o marido estava no trabalho. Adriano malandro que é, viu ali a oportunidade para dar o troco no chefe.
Na quinta feira, a namorada do chefe estava no bar perto da faculdade onde Adriano estudava engenharia da madeira. Como ela não desceu do carro naquela manhã de terça, não conhecia Adriano. Que rapidamente puxou papo com a moça, Camila era seu nome. Papo vai papo vem, os dois se beijaram. Parecia que Adriano estava vingado, pegar a mulher do chefe é um tipo de sacanagem nível 3, mas ele queria mais.
Tirou uma foto com a moça e no dia seguinte mostrou para a Rita, que ficou pasma ao ver a furada de olho que Adriano deu no chefe. Minutos depois o chefe chega e como de praxe, pede para Adriano estacionar o carro, mas muda de idéia e pede para ele levar o carro para lavar. Com um sorriso sarcástico, Adriano pega as chaves e sai. Depois que ele arranca com o carro, Rita mostra a foto do Adriano com a namorada do chefe. “Olha só a gatinha que o Adriano pegou na faculdade”. Dava para ver faíscas saindo dos olhos do chefe.
Adriano estacionou o carro numa rua barra pesada e deixou a porta sem travar. Cinco minutos depois não tinha mais carro ali. Adriano pegou um táxi e avisou o chefe de que seu carro tinha sido roubado. Sim agora ele estava vingado.

Niilismo

Hoje é segunda-feira e há algo que me perturba. Será que o Sr. Alexandre Fernandes, vulgo Kibe, no afã de ser niilista, ainda está entre nós? Quero dizer, será que depois de todo aquele desabafo de sexta-feira ele não cometeu um suicídio às 15h23 de sábado?
Há algo de mórbido na curiosidade do ser humano que muito me intriga. Acreditam vocês que tudo o que me perguntaram desde quinta-feira diz respeito à moça que se jogou do 15º andar do meu prédio? Todo mundo só se liga em morte. O caso Madeleine reascendeu depois das notícias de que ela poderia estar morta.
Depois eu é que sou o psicopata.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Hoje não

Hoje não estou estou afim de nada! Não adianta reclamar, pelo menos não hoje porque não estou nem aí. Só porque hoje é sexta feira? E eu com isso? Não me interessa. Hoje só quero saber de mim mesmo. Não irei me importar com ninguém, com nada. Só vou pensar em nada, pois se pensar em mim é pensar em alguma coisa então prefiro não pensar. O mundo pode acabar bem diante dos meus olhos que o máximo que vou fazer é dar de ombros. Afinal não estou nem ai.
Não quero saber o que tem para fazer hoje eu quero que se dane, não me importo. Frio, calor, neve, chuva ou terremoto nem ligo. Hoje sou eu e eu mesmo, mais nada! Todos deviam experimentar, seria o dia do nem aí. Digo mais, deveria ser direito de todos ter um dia desses. Imagine a cena, numa praça qualquer, sem fazer nada, tranqüilo só olhando o horizonte. Mesmo que esse horizonte seja um relógio de flores aquela coisa cheia de flor dentro. E por trás disso um avião cai, o seu esforço máximo é colocar os óculos escuros para proteger a vista.
Outra cena pode ser o sujeito entra no cinema para um filme daqueles “beeem legais” do Steven Segal. Muita ação, tiros, gritos, ciladas e coisas desse tipo de filme e o sujeito na primeira fileira com os pés espichados dormindo tranqüilo da vida. Só interrompido pelos funcionários da limpeza, no final do filme. E eles avisariam que o filme acabou e só ouvirão um; e daí, eu não queria assistir essa droga mesmo.
Não interessa, hoje não quero saber de nada. Aquecimento global, tele-sena, futebol, dinheiro, birita, livro, família, doença, comida, horários o escambau. Hoje não quero saber de mais nada, nem de quem tem seda (como disse Marcelo D2). Não quero ler e nem assistir nada. Nem daquela gostosona do último andar. Não vou ler nenhuma notícia até o fim da matéria, ou melhor hoje não vou ler nem as manchetes. E se alguém vier falar comigo, vai falar com uma parede.
Hoje nem a garotinha ruiva vai me fazer mudar de idéia! Tudo bem, tudo bem, se ela aparecer faço de tudo para manter minha posição, mas ai já não garanto nada.

Fim

Falcão leva namorada a show

Não sei vocês, mas eu necessito de pouquíssimo esforço para me divertir – o que é ótimo, porque adoro me divertir. Basta um tropicão de alguém desconhecido ou uma anedota insossa do Paulo Jalaska para meu corpo inteiro cair na gargalhada. Outro dia aconteceu um fato que eu nem recordo mais, mas na hora foi tão engraçado que eu rio até hoje.
Essa busca incessante por diversão, admito, me faz apelar. Todo dia de manhã, e outras inúmeras vezes durante o dia, visito o portal Terra para acompanhar minhas seções preferidas: Gente & TV e Diversão. E não pense que esta seção "Diversão" do Terra é um portal de piadas ou coisa parecida; é só um portal de fofocas.
Uma prova de que me divirto fácil é o fato de eu achar graça na seção Gente & TV. Seria completamente trágico se eu não achasse cômico. Veja que terrível: o rapaz – baitola, claro – estuda quatro anos de jornalismo (e possivelmente mais uns dois anos de pós-graduação em fotografia de moda) para dar a manchete "Marcelo Falcão corre em praia". Jesus!, onde esse mundo vai parar?
Aí vem aquela discussão de que o cara é famoso, é pessoa pública, é não-sei-o-que. Tudo bem, ele tem que se cuidar, por exemplo, ao falar de coisas polêmicas como aborto ou eutanásia – afinal muitas mentes adolescentes transtornadas pela maconha são altamente influenciadas por Marcelo Falcão, quem, suponho eu, é o vocalista fanho da banda O Rappa –, mas tirar fotos do cara correndo pela praia é demais. Eu já sei quem são todas as garotas que ele pegou na vida, mas não tenho nenhuma vontade de saber como é a sequência de exercícios físicos feitos por ele. Se tem uma coisa que eu não quero imitar são as séries que Falcão faz na academia (ainda se fosse outro Falcão, o da flor, vá lá). Para provar que eu não estou mentindo, segue a "íntegra" da matéria:
"O cantor Marcelo Falcão aproveitou a tarde de sol desta terça-feira para correr na praia do Recreio, Rio. Após os exercícios, o cantor fez alongamentos próximo a um quiosque da praia. Para completar a tarde de malhação sozinho, ele descansou tomando uma água de coco."
Eu não consigo acreditar que alguém se rebaixa a tal ponto de ser capaz de acompanhar a "tarde de malhação" do Falcão – e seja lá que Falcão for!

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Click

Era uma vez, num país muito distante Fujtsu, um árabe com nome japonês que vendia tapetes. Era o cara mais azarado do mundo. Ele quase não vendia o suficiente para comer e não tinha muitos amigos. Um dia caminhando pelo deserto encontrou um controle remoto. Sem saber o que fazer com aquilo foi até o povoado mais próximo e na tenda de esfirras do senhor Habib pediu um par de pilhas, mesmo que usadas. O senhor Habib deu pilhas novas, pois devia algum dinheiro de uma compra do mês anterior.
Feliz e contente Fujtsu foi até sua casa para testar o controle remoto. Foi ai que ele fez a brilhante descoberta. Não tinha a menor idéia de para que é que servia aquele controle remoto. Mas não desanimou em suas andanças o controle remoto era seu passatempo. Fazia de conta que o controle era telefone celular - essa coisa não funciona, vive fora de área - dizia para si mesmo como se aquilo funcionasse de verdade.
E assim o vendedor ao menos não se sentia sozinho, para ele estava a um passo de fazer contato com pessoas de outro lugar, quem sabe até de outro planeta por que não!? Numa tarde ensolarada lá pelas bandas de Cabul, Fujtsu fez uso de seu brinquedo e pela primeira vez ouviu um barulho. Jamais ele vai esquecer o que aconteceu depois daquele “click”. Uma sequência de explosões colocaram abaixo uma montanha que escondia armas do exército afegão.

Fim

Pesadelo: uma lição de vida

É aquilo que toda vovó já dizia: "não coma muito antes de dormir, meu filho. Você terá pesadelos terríveis!" Pois é, ontem eu bati um rango nervoso já perto da meia-noite e pesadelei, lógico.
Não me lembro muito bem da história. Era algo como uma mocinha simpática que de repente virava uma psicopata (sim, estou com isso na cabeça e já faz uns dias – acho que preciso assassinar alguém) que queria, digamos assim, "lanchar" meu braço. Para me proteger, a Lúcia – uma outra rapariga que eu conheci no mundo virtual – mandou que eu desse porrada na filha do demo. O problema é que nada que eu fizesse surtia efeito. Em um dado momento, lembrei-me de meu irmão e suas lutas de WWF – um tipo de Telecat norte-americano (ele ainda acredita, coitado) – e taquei uma cadeira na bichinha.
Nada.
E não que eu fosse fraco. Pelo contrário: o sonho era meu! A monstrinho é que era mais forte do que eu gostaria. Foram algumas horas de combate sangrento – pro meu lado – até que acontecesse a reviravolta. Num golpe eu acertei o que ficou conhecido depois – num churrasco que eu dei para comemorar a vitória – como o "olho da tandera". A endiabrada explodiu na hora e eu pude viver feliz para sempre ao lado de Lucinha.
Eu venci um pesadelo! Não precisei acordar ofegante e suando no meio da noite; não precisei correr com o travesseiro na mão até a cama da minha mãe e pedir arrego; não precisei ligar a TV no Cartoon Network e ver Tom & Jerry pra me acalmar. Vencer um pesadelo é uma das maiores lições de vida que existem. A televisão institui que o pesadelo é ruim pro coração, e você sai vitorioso! Você é maior do que tudo aquilo! Você é melhor do que aquele padrão definido pela novela.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Tipo exportação

Dono de uma perna esquerda habilidosa e um chute poderoso, Murilo fazia chover nas aula de educação física. Mesmo na oitava série ele jogava com a rapaziada mais velha e se saia muito bem. Gostava de aulas de português e matemática, tinha pavor de pagode, porém adorava ouvir samba antigo. Cartola, por influência do tio Neco, era o seu musico preferido, mas o que Murilo mais gostava mesmo era de jogar futebol.

Apesar de ser um dos melhores do time da escola, nunca tentou a sorte em algum clube. Tinha preguiça de cumprir os horários dos treinos. Queria ser professor de educação física, ainda mais depois que viu quase que sem querer, que a garotinha ruiva escreveu o nome do professor e o dela na capa do caderno. Isso o deixou bastante decepcionado, mas ele ainda tinha esperanças de conquistar a garotinha ruiva.

Numa bela tarde de novembro Murilo estava jogando futebol com os primos na casa da Vó Paula. Nesta mesma tarde a Vó Paula recebeu a visita de um casal espanhol que ela tinha conhecido na Copa do Mundo na Coréia em 2002. Raul que como a maioria dos estrangeiros no Brasil, ficou apaixonado pelo povo e pela cultura brasileira. Ficou admirado com a habilidade do garoto que jogava bola com os primos no campo improvisado no jardim da Vó Paula.

Na hora do almoço Raul meio sem jeito perguntou para a Vó Paula se o garoto jogava em algum clube. Ela respondeu que não pois o garoto queria ser professor de educação física. O espanhol ficou impressionado mais uma vez como garoto, achou nobre o Murilo querer ser professor. E como quem não quer nada ofereceu-se a levar o garoto para a Espanha para ele estudar por lá. Disse que seria uma ótima oportunidade para ele aprender outra língua, outros costumes e ainda ter acesso à cultura européia.

A mãe do Murilo, Bia, foi a favor, pois queria até ir junto para acompanhá-lo na sua estada na Espanha. O pai, Seu Jair não quis nem ouvir falar em ir para a Europa, já no começo da conversa disse que não e pronto. Num primeiro instante Raul se deu por vencido, mas não desistiu da idéia de levar Murilo para a Europa. Tanto que de tempos em tempos vinha ao Brasil e visitava a Vó Paula e sempre perguntava sobre o neto bom de bola. Vó Paula certa vez decidiu dar uma forcinha para que o garoto fosse estudar fora do Brasil.

Depois de muito insistir Vó Paula convenceu Jair e a filha Bia em deixar o garoto ir para a Europa. Mas o Seu Jair tinha uma condição, como não estava com uma situação financeira muito tranqüila. Decidiu que Murilo só iria para a Espanha se a família fosse junto. Numa ligação para a Vó Paula, Raul disse que se soubesse tinha feito essa proposta já na primeira vez. Ele tinha um restaurante e como o Seu Jair era cozinheiro em um Hotel a proposta caiu como uma luva.

Mas ninguém tinha se dado conta de uma coisa. O que Murilo achava de toda essa história de morar em outro país, de estudar com colegas que não falam a língua dele enfim dessa mudança toda que estava acontecendo por ele ter talento nos pés. Porém não teve jeito, os pais arrumaram mudança, Raul providenciou o apartamento e o colégio para Murilo, mais o trabalho para o Seu Jair. Bia pintava quadros e dava aula de piano, no começo ficou pintando seus quadros agora com paisagens diferentes.

Depois de dois anos na Espanha, Seu Jair vai muito bem no restaurante de Raul, como cozinheiro chefe. Bia dá aulas de piano e continua a pintar seus quadros. Murilo se destacou no time da escola e foi jogar nas categorias de base do Atlético de Madrid. Se naturalizou espanhol e jogará pela seleção espanhola em breve. E o Brasil perdeu mais um jogador, mas esse antes de aparecer em um clube brasileiro.

Eu, psicopata

Nós andávamos brigando muito. Toda semana era uma discussão nova. Toda semana mamãe era sumariamente xingada. Viver assim, sob o mesmo teto, já estava ficando insuportável. Mas eu sou paciente. Eu fui muito paciente. Agüentava todos os xingamentos sem mover um pêlo sequer. Retrucava sim, mas com a sabedoria e paciência que a vida me ensinou a ter.
O problema é que ela não podia me ver trabalhando em casa. Não entendia que um homem pode trabalhar em casa. Eu faço tudo aqui, depois mando por e-mail. Simples, mas ela não entendia isso. Achava que um homem deveria sair cedo de casa e só voltar na hora da janta. Tinha o pensamento muito machista. O sonho dela sempre foi de me receber de avental amarrado nas costas e pano de prato na mão. Queria porque queria ser uma simples dona-de-casa.
Aconteceu enquanto eu estava na minha escrivaninha, desenhando. Ela veio da cozinha toda nervosa porque eu tinha lavado a louça. A desgraçada sequer me deixava arrumar a cama! Aí veio me xingando, me chamando de baitola, dizendo que homem não deve fazer serviços de casa e blá-blá-blá. Que culpa eu tenho se ela se jogou sobre o meu lápis? Caiu de nuca! Ela sabia que isso poderia acontecer: viu enquanto eu o apontava.

Quando eu era piazão

Relembrar a infância é algo contagiante. Basta ouvir alguém dizendo "eu brincava disso quando era piá" ou  "quando eu era criança lá em Barbacena..." que já dá vontade de comentar suas peripécias. Eu, por exemplo, adoro dizer o quanto eu era bom jogando bets, principalmente para derrubar a casinha. Entretanto odeio quando falam de soltar raia, porque nunca consegui relar e aparar os garotos da rua de baixo. No máximo uma debicada até o chão.
Mas divertido mesmo é lembrar – na intimidade – das primeiras vezes. E não!, não pense besteira. Estamos falando de infância, ok? Eu quero dizer a primeira vez de qualquer coisa, tipo a primeira vez que você andou de skate ou nadou sem bóia numa piscina. Clássico é relembrar a primeira vez da bicicleta sem rodinha – a minha foi em Pato Branco.
Outro dia eu lembrei da minha primeira vez num Super Nintendo. Eu já era viciado em Atari (Decatlo e Enduro), Master System (Double Dragon e Vigilante) e Mega Drive (Sonic, óbvio). Mas o Snes era uma revolução. O primeiro vídeo game sei-lá-quantos-bits. Era um tal de International Super Star Soccer, com Beranco e Gomez esmirilhando a defesa adversária; Super Mario World, com Yoshi cuspindo fogo e suas infinitas fases; Top Gear 2 e a velha manha de bater na chegada e ficar duas vezes em primeiro; Street Fighter Turbo II e os intermináveis pegas até altas horas da madrugada; e, por fim, mas não menos importante, Mortal Kombat, de Liu Kang e Johnny Cage, com seus pâncreas, fígado e muito sangue espirrando na tela.
Acho que foi isso que me tornou um psicopata.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Cabral e o Fusca azul-pavão

Cabral só observa, escondido atrás do Fusca azul-pavão. Lá dentro, a empregada tenta pelo menos salvar seus pertences. Mas o fogo não dá trégua. O Coronel já desistiu de tudo; aguarda a destruição da sua casa sentado à beira da piscina. Mandou até cancelar o chamado dos bombeiros, feito há mais de duas horas. Aliás, o comandante do Esquadrão já sabe que terá de buscar um novo emprego, longe da cidadezinha.
As primeiras telhas começam a desmoronar do terceiro andar, mas isso não demove a empregada de sua busca. Foi preciso o jardineiro Teobaldo entrar na casa e tirá-la a força, antes que o pior acontecesse. Ela sai se debatendo, chorando a perda do aparelho de vídeo que comprara numa promoção. Cabral só observa, escondido atrás do Fusca azul-pavão.
De repente o imenso coqueiro do jardim de inverno despenca sobre a ante-sala e divide a casa ao meio. D. Soraia, mulher do Coronel, faz as primeiras ligações para a loja de eletrodomésticos. Diz que precisa de uma geladeira nova, de preferência de alumínio para manter a decoração antiga. Ela parece fascinada com o fogo consumindo umas pinturas de uma tia do marido – que ela dizia serem hor-rí-veis. Já Cabral ainda observa, agora deitado sobre o Fusca azul-pavão.
E então o crepúsculo vespertino chega, junto com um primo chato do Coronel – que soube do acidente ouvindo a frequência da polícia. Inútil: paredes começam a desmoronar e pequenas explosões aqui e acolá dão um movimento dançante ao incêndio. Não há nada mais que se possa fazer além de olhar e admirar a força da natureza. Todos parecem hipnotizados com a beleza do fogo, cada vez mais contrastante com a mistura de cores em que se transforma o céu. Todos, menos um: lembrou-se Cabral das chaves do fusquinha, esquecidas sobre a penteadeira do quarto da mãe. "Catzo!"
Ele sai correndo em direção à casa. Teobaldo ainda tenta segurá-lo, mas Cabral é o quarterback da equipe de futebol americano da cidade: desvia do jardineiro sem nenhum esforço. D. Soraia fica desesperada; quase tem um enfarte quando o filho adentra as chamas. Agora Cabral sobe correndo a escadaria central, mostrando habilidade ao desviar das telhas que continuam a cair. Num salto impressionante, transpõe o piano, um dos poucos móveis ainda não consumido pelas chamas. Chega ao quarto dos pais em menos de 12 segundos. Um recorde.
No quarto, o fogo é soberano. Começara ali, no banheiro da suíte, depois de um curto-circuito no aparelho de depilação de D. Soraia. Cabral apertou os olhos. Agora o objetivo não era apenas resgatar a chave, e sim sair vivo daquela aventura. Se tivesse pensado antes, sabia que qualquer mecânico abre um Fusca com a unha mais comprida deixada no dedo mínimo da mão esquerda. O fogo começa a aumentar. Atinge uma escrivaninha de mogno que acabara de ser envernizada.
O rapaz está agora cercado pelas chamas. A fumaça não lhe deixa abrir os olhos. Começa a correr enlouquecidamente pelo quarto. Cabral cai. É o fim. Os pêlos do tornozelo dele grudaram na colcha de cheline.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Os pombos

Outro dia ali na praça do Cavalo Babão, vi uns vinte pombos comendo milho, que uma velhinha, bem intencionada, jogou na praça. Os bichos sabiam que na hora que a velhinha aparece, é a hora da merenda. Se é certo ou não alimentar esses bichos vai da opinião de cada um, eu acho errado. Descendo pelo Largo da Ordem um casal de pombos me chamou atenção, eles não comiam milho, pipoca ou farelo de pão, estavam comendo um pedaço de carne.

Estranho não é!? Mais que isso, é preocupante, ainda lembro de que quando eu era criança, corria na tentativa de pegar um pombo, sempre sem sucesso. Eles sempre fugiam. Teve também uma vez que um pombo bateu no vidro da janela no trabalho e se esborrachou treze andares abaixo. Essas atitudes pombísticas me deixam desconfiado. E se eles estiverem bolando alguma coisa!?

Se antigamente, quando eles só comiam milho e migalhas, os pombos já nos assustavam com suas rajadas de... hmm... de cocô sobre nossas cabeças, ou no capô do carro ou naquela camisa bacana, imagine agora que comem carne. O perigo se aproxima, a próxima geração de pombos assassinos pode e serão uma ameaça. Já pensou o sujeito com a família numa churrascaria, numa bela tarde de domingo, e uma revoada de pombos entra no recinto e ataca o espeto de picanha na mão do garçom, que tenta em vão se livrar dos animais famintos e acaba acertando um cliente com o espeto.

E se o próximo estágio da evolução dos pombos for o consumo de carne humana. Aí sim o bicho (neste caso o pombo) vai pegar! Não teremos chances contra esses inimigos alados, só teremos chances de vence-los caso haja uma união de todos. Depois de um treinamento com armas de pressão, dessas de chumbinho. Católicos, evangélicos e umbandistas, democratas e republicanos, conservadores e liberais, capixabas, baianos, gaúchos e afins. Todos se unirão para dar um fim desses ratos de asas.

Mas depois que o último pombo assassino comedor de carne tombar inerte sem chances de bicar os olhos das pessoas, uma nova dúvida que irá assolar a humanidade. Qual deverá ser o novo símbolo da paz? Sim, porque aquela pomba branca vai tomar chumbo também.

Fim

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Exceção à regra curitiboca

Muito me preocupa essas coisas que vocês andam por aí dizendo sobre Curitiba. Pois é, vocês mesmo; porque eu sou bicho daqui – e bicho malandro, morô? – e não saio país afora dizendo que curitibano é isso ou aquilo. Esse tipo de piada só deve ser feita em âmbito interno. Aliás, piada sobre curitibanos é algo que eu evito no meu show. Evito pois sou uma exceção à regra. Quem disse que nós somos metidos e arrogantes? Só essa ralé que vêm dos outros estados.
Há mais ou menos dez anos, mora um rapaz provavelmente carioca no mesmo andar que eu – na porta ao lado, inclusive. Dizem que o povo carioca é piadista, falastrão, festeiro e conversador, mas não é nada disso que esse meu vizinho demonstra ser. Poucas vezes ele veio falar comigo. Curiosamente, em todas eu estava ocupado mexendo no celular ou procurando vestígios de sujeira na ponta do sapato. São coisas que eu costumo fazer no elevador, oras. Será que ele não percebe quando eu estou ocupado? Povinho besta.
Outro dia, em pleno domingo à tarde, ele tocou a campainha do meu apartamento, provavelmente para pedir uma xícara de açúcar ou coisa parecida. Desta vez foi quase! O problema é que eu estava calçando pantufas de tigrinho e com a sala um pouco desorganizada. Sem abrir a porta, consegui explicar que estava ocupado; disse que estava encerando o tapete ou coisa parecida. Mandei que ele fosse procurar com a Soeli do 202.

Mas eu tenho muito amigos. Amigos bons, antigos. Amigos de infância! É aquela mesma turma que jogava handebol na pré-escola. É só durante essa época que esse povo – como dizem? – "tipicamente curitibano" está aberto a novas relações. Vez por outra nos encontramos no shopping ou numa agência bancária e eles sempre dizem: "almoça lá em casa um dia..." – as reticências, nesse caso, são fundamentais, pois essas são sempre as últimas palavras que eu escuto enquanto me despeço e mudo de fila. Tenho muito orgulho de nunca ter ido a um desses almoços. É claro! Imagina a vergonha: nem conheço a mulher dele.
Trabalho no Aeroporto Internacional de Curitiba. Uma função administrativa; passo o dia inteiro fechado no meu escritório. Infelizmente, não tenho contato algum com os turistas que chegam do país inteiro. Todavia, algumas vezes o rapaz do quiosque de informações precisa faltar (como é mesmo o nome dele? Não me lembro. Só sei que é um moreno que eu contratei pessoalmente lá pelos idos de 1983. Funcionário antigo da casa). Como todo bom gerente, sempre me ofereço para substituí-lo; Saraiva, o chefe, nunca aceita: sempre lembra daquele episódio que eu disse a uma baiana que não sabia onde era São José dos Pinhais.
Bem... Como eu ia saber? Não é só porque estava sentado atrás de um balcão de informações que precisava saber onde ficam todas as cidades do Paraná.
Enfim, essa relação com os povos de outras cidades é complicada. Eles chegam aqui já pensando que curitibano é arrogante e não fala com estranhos. Falácia! Eles que não tem a dignidade de nos abordar de uma forma coerente. Eu, como uma exceção à regra, preciso mudar essa pré concepção. Assim que eles vierem falar comigo, claro.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

VTNC

-Não, com essa carteirinha você não entra!
-Como não?
-Com essa ai você não entra.
-Mas como eu posso provar que eu sou eu.
-Não pode não.
-Mas meus documentos comprovam isso.
-Não com essa carteirinha você não entra.
-É brincadeira!
-Não é não, isso é lei.
-Que lei estúpida!
-Você está atrapalhando meu trabalho. Vou chamar a polícia.
-Além de eu não ser eu, ainda sou um criminoso!
-Por favor, ele está tumultuando.
-Hei você, o que está fazendo ai?
-Estou querendo entrar, mas ele não deixa.
-Mas você tem ingresso?
-Sim eu tenho.
-Por que não entra?
-Porque ele não deixa.
-Não é que eu não deixo. É que essa carteirinha não pode.
-Então você não pode permanecer aqui, é nossa área de segurança.
-Mas você sabe que numa abordagem para a polícia meus documentos comprovariam que eu sou eu!
-Sim.
-Então você concorda que estou certo e que isso é injusto.
-É eu também concordo!

Fim


PS: Tomara que esse imbecíl nunca precise de ajuda na vida.

PS2: Primeiro Mundo é a casa do car****

Ex-torcedor

Se tem algo que não merece comentários no dia de hoje, esse algo é o Flamengo. Aquele timinho ridículo, com seus jogadores medíocres e caras-de-pau. A maior torcida do mundo, o mais querido do Brasil, o único penta campeão do Brasileiro e eles me perdem para aquela coleção de volantes chamado Atlético, vulgo Paranaense. É algo inacreditável – e 2 a 0 ainda por cima.
Este último, o tal "Paranaense", é outro que precisa ser ignorado pela opinião pública. Clube de primeiro mundo? O escambau! Nenhum time da Europa precisa acusar os torcedores visitantes de mentirosos para lucrar 20 reais a mais. Muito menos colocar um poste de dois metros de diâmetro entre a arquibancada e o campo só para atordoar os inimigos. Isso é tortura mental.
Chega! Estou de greve! Greve contra o tal Paranaense e, acreditem, contra o meu – até segunda ordem – ex-time. Não irei mais aos jogos da Kyocera Arena até que retirem aquele poste. Não acompanharei mais o Flamengo até que ele vença três jogos seguidos. Minhas campanhas têm até nome: "Fora (do) Joaquim Américo" e "Menguinho nunca mais".
E tenho dito.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Espiadinha

-Mais rápido cara!
-Calma, calma.
-Xiiiii quieto e sobe logo.
-Pronto. Olha só, veja que beleza.
-Caraca mané, a gente vai ser dar bem.
-Será que conseguem nos ouvir?
-Sei lá.
-Tomara que não.
-O delícia, olha só.
-Caraca mané, caraca mané...
-Haha amanhã a gente traz uma câmera.
-Mas sera que rola filmar daqui?
-Não interessa, amanhã a gente vê se da ou não.
-Que idéia genial hein!
-Nem fale, vamos para alguém?
-Não melhor não.
-Por quê?
-Já pensou no tamanho da encrenca que vai dar isso se nos descobrirem!?
-É mesmo. Mas a gente não vai colocar no Youtube?
-Vamos sim.
-Tinha que ter um jeito de ganhar uma grana com isso.
-Cara você só pensa em grana.
-O que que tem?
-E a diversão cara, muito mais legal fazer isso por diversão.
-Ta bem.
-Hey, ouviu isso?
-Isso o quê?
-Um barulho, tipo um chiado.
-Não!
-Sei lá. Ouça, de novo!
-Agora eu ouvi.
-O que acha que é?
-Parece alguma coisa quebrando.
-Caraca mané! É o forro. Volta volta...
-Não empurra meu!
-Vai cara vai...
-Opa!
-Opa?
-Alguém fechou a saída.
-Caraca fodeu!
-Fodeu fodido.
-Fodeu fudidíssimo. E agora?
-Agora fodeu.
-Para de falar fodeu.
-Para você. E agora?
-Vamos sair pelo outro lado.
-Caraca meu, e tiver alguém lá?
-A gente inventa uma desculpa, vamos.

MINUTOS DEPOIS

-Cara é aquele barulho de novo.
-É e mais alto!
-Opa!
-Fodeu!
-Ahhhhhhhhh...
-Ahhhhhhhhh...

E assim os dois otários, que queriam ser malandros, caíram do forro do banheiro das meninas, um quebrou um braço o outro quebrou o pé e foram expulsos da escola por espiar as garotas no banheiro.

Fim

Os Nerds também vingam

Astolphinho era o típico nerd, ninguém dava bola para ele. A não ser os os pais e os caras do fundão. Os pais por motivos óbvios, já os caras do fundão adoravam tirar uma onda com a cara dele. As sacanagens que faziam com Astolphinho não sensibilizavam os colegas da escola. Os colegas se limitavam a rir da cara dele, no máximo ajudavam ele a sair de dentro da lixeira.
Astolphinho não gostava de ninguém da idade dele, mas apesar de tudo nunca contava aos pais o que acontecia na escola. Eles achavam que ia tudo bem por causa das boas notas do garoto. E também porque a professora Adélia nunca mandou nenhum recado falando sobre o comportamento acanhado dele em sala. Porém Astolphinho era um aluno genial, sempre três passos a frente dos demais.
Astolphinho passou todo o período escolar assim, tirando boas notas, sendo o melhor aluno da classe, fazendo os melhores trabalhos, apanhando na entrada, na saída e no recreio, sozinho e sem amigos. Mas nunca se queixou disso, com o tempo aprendeu a fugir da maioria das perseguições dos caras do fundão. Não que isso sempre desse certo, mas de certa forma conseguiu evitar alguns empurrões, rasteiras e outras brincadeiras sem-noção do gênero.
Astolphinho cresceu, tornou-se um jovem obsecado nos estudos de explosivos e perfumes. Mudou seu quarto para o porão, onde improvisou um laboratório, onde o cherio e os barulhos de seus experimentos não incomodaria seus pais. Mergulhado entre hidrocarbonetos e toda aquela porra quer ensinam no ensino médio. Ele foi se destacando na faculdade de farmácia.
Astolphinho não sentia falta de amigos nem de uma namorada, suas experiências compensavam a solidão. Numa manhã de sol, Astolphinho foi até a cantina da facul irada para comprar algo para comer. Quando foi passar por uma das mesas um daqueles caras do fundão o reconheceu e foi cumprimenta-lo, chegou a apresentar Astolphinho para seus amigos. Mas ele voltou com a bandeija com um suco de ameixa e um sanduíche natural, o sujeito deu um totózinho no pé dele que caiu em cima do seu lanche.
Astolphinho não agüentou a “brincadeira” e decidiu s vingar. Saiu dali correndo pegou sua bicicleta, que tinha sido alvo de outra “brincadeira” ela estava coberta como uma múmia com papel higiênico, e foi para casa. Chegando lá, puto da cara, entrou no seu quarto/laboratório pegou um tubo de ensaio com um líquido roxo, com uma pipeta colocou uma gota de um outro líquido, que ao entrar em contato com o líquido do tubo de ensaio fez uma nuvem de fumaça.
Astolphinho estava decidido a se vingar, colocou um pequena rola no tubo de ensaio e guardou no bolso e voltou para a facul irada. Subiu pela escada de incêndio até o último andar. Foi até o laboratório e pelos dutos de ar seguiu até o reservatório de água e despejou o que tinha no tubo de ensaio. Disso nunca mais Astolphinho foi visto na facul irada. Porém todos os alunos, funcionários e professores da facul irada que beberam água no bebedouros ficaram sem um fio de cabelo no corpo.
Astolphinho, estava vingado de todas as pegadinhas, sacanagens, brincadeiras e afins que sofreu durante a vida. Porém nem tudo é perfeito, num belo final de tarde Astolphinho estava voltando das Casas China com material para pesquisa, chegando em casa um escorregão idiota, a cabeça no degrau e assim Astolphinho foi para o beleléu!

Fim